Saúde. O perfil da mulher de meia idade


Vya Estelar - Do que esta mulher não deve ter medo?
A velhice é inexorável. Não adianta fugir ou fechar os olhos, diante do espelho ou do processo de envelhecimento. Encarar a meia-idade, como um tempo de passagem, como foi a adolescência, é a melhor saída. É fundamental buscar uma melhor qualidade de vida, para tirar um bom proveito da maturidade.
Nesta entrevista ao Vya Estelar, a jornalista e escritora, Lea Maria Aarão Reis, autora do livro Maturidade - Manual de Sobrevivência da Meia Idade, conta com detalhes como a mulher brasileira está envelhecendo. Ela fala sobre: o medo de envelhecer, trabalho, saúde, cirurgia plástica, vida afetiva e conjugal. Lea desenha os três perfis sexuais da maturidade feminina e fornece uma manual de sobrevivência para você enfrentar com dignidade esta fase da vida.

Vya Estelar - Na prática, qual seria o conceito preciso para uma pessoa que vive a meia-idade?
Lea - O conceito de velhice criado pela Organização Mundial de Saúde é o de que este período da vida começa aos 65 anos. Ora, hoje, no Brasil, uma mulher da classe média da sociedade urbana e industrializada, que está entre cerca de 50 e 70 anos, pode ser considerada de meia-idade. Por volta dos 50 ela entra na menopausa. Como costuma se cuidar muito (saúde e aparência) e como conta com recursos cada vez mais sofisticados: cirurgias plásticas e os chamados preenchimentos de rugas e linhas de expressões, massagens, inúmeras formas de exercitar o físico, tinturas e hidratantes de cabelos, fitoterápicos, hormônios, medicina preventiva, proteção da pele, técnicas de relaxamento e administração do estresse, ela vai empurrando a velhice para cada vez mais longe. Com o homem ocorre mais ou menos o mesmo. Se bem que eles envelhecem (por fora) mais rápido que elas. Por questão de preconceito, ainda não utilizam todos os recursos de rejuvenescimento à sua disposição. Mas estão chegando lá. E porque por dentro são mais deprimidos.
Vya Estelar - Qual é a maior dificuldade que a mulher da meia-idade enfrenta hoje?
Lea - A dificuldade de romper com o estereótipo de ser "velha" e sem "utilidade" e de ser posta de lado, na lata do lixo social. De ser descartada do mercado de trabalho e do mercado amoroso. Pode sentir dificuldades de se realizar sexualmente, se não tem um parceiro constante, porque começam as dificuldades de achar namorados de qualidade. Na rua, passa a sofrer da "síndrome da invisibilidade". Poucos olham para ela, que antes era a própria imagem da sedução. Começa também a ser desrespeitada pelos mais jovens, o que se agrava quando entra na velhice. Os idosos, no Brasil, notoriamente são muito maltratados. Pela sociedade e pelo Estado.
Vya Estelar - Esta dificuldade varia em função de classe social, estado civil, nível cultural, se mora num grande centro urbano ou no interior...?
Lea - Claro. Nas classes menos favorecidas financeiramente, nas cidades menores e no campo, esta categoria da "mulher de meia-idade" praticamente ainda não existe. Do status de jovem, passa diretamente ao de idosa. Ela não tem os mesmos recursos à disposição da mulher dos grandes centros. Não tem nem informação ou não tem dinheiro para se cuidar. É uma mulher "acabada", como se diz vulgarmente. Fica em casa, faz seu tricô, o crochê, cuida dos netos, vê a TV e a banda passar. Ela não viveu as revoluções feministas dos anos 60 e, infelizmente, ainda é uma propriedade do marido, quando o tem. Quando é sozinha, é uma paria. Geralmente encarna a personagem da "solteirona". Ou da "viúva".

Lea - A mulher (e o homem) de meia-idade não deve nem pode ter medo de envelhecer. É um processo natural, mesmo que seja doloroso. Porque neste jogo moderno, de empurrar a velhice sempre para frente, chega um momento em que as plásticas, as maquilagens, as roupas provocantes ou a pose de "gato eterno" se tornam ridículas e sem sentido. As mulheres mais inteligentes e mais perspicazes, as mais sensíveis, nas grandes cidades, hoje já falam em
"Por favor, nos deixem envelhecer em paz"
E não caem na armadilha da milionária (e perversa) indústria do rejuvenescimento. Em resumo: precisamos todos saber administrar o medo de envelhecer. O medo da morte.
Vya Estelar - A mulher da meia-idade enfrenta algum preconceito para ingressar no mercado de trabalho?
Lea - Eu diria que ela enfrenta TODOS os preconceitos. No caso de determinadas profissões, o mercado procura expeli-la, embora a mulher madura seja experiente, tenha um agudo senso de responsabilidade, seja mais organizada e tenha, com freqüência, aquela espécie de carisma dos líderes mais seguros. O que fazer? Insistir, sabendo que a demanda é muito menor que a oferta e que os jovens, com toda justiça, forçam sua entrada no mercado profissional. E imaginar novas atividades, especialmente na área dos serviços.
Vya Estelar - Alguns especialistas em gestão afirmam que o poder feminino (de conciliar, cooperar, de ser menos competitivo) vai dominar as empresas. Você acredita nesta possibilidade?
Lea - Sem dúvida. Já está ocorrendo. Aqui e lá fora. Candidatas à vice-presidência da República, ao Senado, um número crescente de deputadas; herdeiras de grandes fortunas que se tornam executivas e outras que são executivas de carreira; consultoras (a americana Condoleeza Rice é talvez a principal conselheira de Bush, nos EUA), técnicas e cientistas de altíssimo nível, juízas, delegadas. Elas são mais conciliadoras, negociadoras exímias. Mas não são menos competitivas que os homens, não. Quando detém poder, a mulher pode ser tão ou até muito mais dura e fria que o homem. Principalmente quando seus subordinados são homens.

Vya Estelar - Como anda a mulher da meia-idade com o seu casamento?
Lea - As mulheres de 50/60 anos, que viveram e participaram da contracultura e do sonho dos mágicos anos 60, em geral estão bem colocadas em suas relações afetivas. As que ficaram na platéia e não tiveram a coragem de romper com os preconceitos do passado, em geral estão mal, encalhadas em casamentos apodrecidos.
Vya Estelar - Dá para desenhar um perfil do comportamento sexual da mulher da meia-idade?
Lea - Vejo três perfis:
1º)A mulher que encerrou ou está encerrando sua vida sexual. Transpôs a libido do sexo para outros interesses e está bem.
2º)A mulher que continua com uma vida sexual animada com seu parceiro antigo (marido, amante, namorado.) Esta, é mais rara. Mas está ótima.
3º)E a mulher sozinha mas que ainda gosta muito de sexo. Está mais ou menos, porque a oferta é escassa apesar do viagra.
Vya Estelar - Que tipo de comportamento muda substancialmente quando a mulher chega na meia-idade?
Lea - O comportamento muda, por ocasião da menopausa. Há uma dança de hormônios violenta no organismo. A meia-idade pode trazer mau humor, revolta. Na pós-menopausa, ela tende a se (re)estabilizar. Mas pode até mudar de personalidade. Vai se tornando mais reflexiva. Envelhecendo mal, ressentida.
Vya Estelar - Como os sentimentos se afloram na mulher, na maturidade?
Lea - A verdadeira maturidade traz, para mulheres e homens, mais generosidade, mais solidariedade, mais consistência, mais sabedoria. Mas não necessariamente mais paciência. Diante de um mundo particularmente mercantilista e recheado de incompetência, é um mito dizer que ficamos mais pacientes. Pelo contrário: há quem fique mais impaciente.
Vya Estelar - Quais seriam as principais dicas que você daria para a mulher da meia-idade em relação à saúde?
Lea - Dicas: entre 40/50 anos reforçar as medidas preventivas em relação à saúde: consultas regulares ao ginecologista, fazer mamografia anual, procurar o bom sono, a boa alimentação e se exercitar. No mais, procurar aperfeiçoar o seu conhecimento profissional se for o caso. E trabalhar mais os aspectos espirituais.
Vya Estelar - Como você vê a questão de se fazer cirurgias plásticas para se manter jovem?
Lea - Nada contra. Sobretudo atualmente. As cirurgias, hoje, são mais delicadas e antes de se lançar mão delas existe uma série de procedimentos que não são tão invasivos e retardam o envelhecimento do rosto e do corpo. Mas cuidado para não entrar na ciranda sinistra das plásticas-para-sempre.
Vya Estelar - Como buscar uma melhor qualidade de vida na meia-idade, ou seja, para envelhecer com dignidade?
Lea - Envelhecer com dignidade é saber perceber o momento certo em que devemos, aos poucos, nos retirarmos da vida trepidante da ação para descobrir os novos prazeres da reflexão.
Vya Estelar - Como a mulher da meia-idade está envelhecendo?
Lea - Considerando perdas e ganhos, altos e baixos, desleixos e exageros, a brasileira da classe média urbana e industrializada está envelhecendo bem, com uma qualidade de vida que não existia uma geração atrás. Daqui para frente vai ser melhor ainda.
Contato com Lea Maria
e-mail: l-maria@uol.com.br


Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/vya_estela95.htm

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