Relacionamento. Cruzeiro para solteiros - Vale a pena embarcar nessa?


Ilha da fantasia. É assim que você definiria o navio da azaração? Ao menos seu roteiro é tentador: ele parte de Santos, no litoral sul paulista, segue para as praias de Santa Catarina e retorna passando em Ilhabela, São Paulo. Ainda no porto, quando entrego os bloquinhos para que as nossas repórteres por três dias anotem o melhor do que virem, sinto que, lá no fundinho, todas levam na bagagem a esperança de encontrar um gato encantado (tipo príncipe). A primeira notícia que me dão é animadora: 70% dos passageiros são homens, e 99% deles acessíveis. Do advogado todo certinho ao lutador de jiu-jítsu sarado. Para completar, festas noite e dia, drinques (vodca com refrigerante, uísque...) aos montes e uma moçada de 20 a 35 anos cheia de sex appeal. Quem tem planos de beijar muuuito está mesmo no paraíso. E o clima de paquera e de sedução presente no ar parece ser mais excitante que cada conquista em si. Ou seja, sentir-se desejada e disputada por vááários faz parte do pacote. Mas será que "amor de mar sobrevive em terra firme"?

Diário de bordo da Fernanda

A solteira Fernanda Teixeira, de 24 anos, dentista, viajou com uma pontinha de esperança de achar um namorado. Apesar de morar em São Paulo, estava num grupo de 20 mulheres e dez homens de Lins, interior paulista. Para facilitar a paquera, a turma usava camisetas vermelhas durante o dia, como torcida organizada. Na frente, havia os dizeres "vários beijos..."; atrás, "...só falta o seu".
1o dia - O embarque começou ao meio-dia, mas o navio só zarpou no fim da tarde. O tempo estava chuvoso, porém incapaz de abalar minha animação. Mal pisei no navio, fui para o deque. Vi gente bonita e clima de confraternização no ar. Uma turma de oito homens de Curitiba veio se apresentar para o meu grupo de amigas. A viagem promete! Mais tarde, fui para a cabine, que dividia com mais três garotas. Pusemos salto agulha, comemos uma coisinha no restaurante e... boate! Minhas amigas logo arrumaram companhia e disputaram os cantos do navio com outros casaizinhos que estavam "se conhecendo melhor". E eu? Curti essa primeira noite dançando, e, claro, paquerando. Saí da pista com o dia clareando. Pensa que fui dormir? Que nada. Às 6 da manhã o barco do amor ainda estava agitado. Tirei fotos com os tripulantes mais gatos e assisti a cenas engraçadas, como a de uma amiga fazendo piruetas de felicidade pelos corredores depois de conhecer vários homens charmosos. Alguns ainda tinham forças para lançar cantadas do tipo "Você caiu do céu". E o entra-e-sai das cabines era intenso - em algumas, o cartão magnético da porta estava do lado de fora. Por esquecimento ou de propósito? Não sei, não.

2o dia - Acordei com uma leve ressaca, mas não me rendi a ela. Fui para a piscina e já encontrei os curitibanos bons de papo, que ficaram a tarde toda com a gente. Nosso ibope estava alto e mais sete rapazes de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, colaram na nossa turma. Tinham 20 e poucos anos, todos morenos, barriga tanque e... bem-humorados. Duas amigas ficaram com dois deles ali mesmo. Uma banda tocava de música eletrônica a axé. E até os tripulantes entravam na dança: uma garota agarrou um garçom na piscina! A festa acabou em carnaval, que durou até as 2 da manhã. Descansar? Nada disso. Danceteria. Beija, beija de novo. E variar de companhia estava na ordem do dia (e da noite): o bonitinho com quem você ficava no deque dificilmente era o mesmo da madrugada. Sim, muita oferta... e amor para dar! Havia até algumas panelinhas de homens combinando rodízio para levar garotas à cabine: um ficava das 2 às 2 e meia, outro das 2 e meia às 3...
3o dia - Chegamos a Ilhabela loucas para ir à praia. Mas o programa perdeu a graça, porque em areia firme nos dispersamos do pessoal do navio. Só no fim da tarde voltamos à embarcação. A banda tocou de novo do lado da piscina e só saí dali à noite. Então bateu uma deprê de último dia, de despedida dos novos "amigos". Vi muitos casais dizendo adeus. Se alguém ia continuar o relacionamento fora dali? Parecia que não...
Álbum de viagem - Das 20 mulheres da minha turma, só uma foi além das ficadas e engatou romance com um advogado de São Paulo. Os dois viviam grudados. Algo raro no cruzeiro. Nem por isso saíram imunes do troca-troca. No segundo dia, o rapaz se atracou com uma garota parecida com a minha amiga achando que fosse ela. Foi perdoado. Confesso, esperava que fosse mais fácil sair de lá namorando.

Diário de bordo da Larissa

Larissa Sicchierolli, de 22 anos, recém-formada em psicologia, embarcou com quatro amigas da faculdade para comemorar a graduação. "Em vez de festa, optamos pelo cruzeiro." Detalhe: ela tem namorado! O lindo, que surgiu em sua vida há cerca de dois meses, ficou em casa, em Mogi das Cruzes. "A gente se conheceu depois que eu já havia fechado o pacote", explica.
1o dia - Estávamos tão ansiosas que fomos as primeiras a entrar no navio. No porto, as pessoas trocavam olhares sutilmente. Só um grupo ou outro de amigos bebia ou falava alto. A expectativa era enorme: "O que será que me aguarda nesta aventura?" Me lembrei do meu namorado e do pesadelo que esse cruzeiro representava para ele... Para espairecer, resolvi comer. No trajeto até o restaurante, os azaradores já atacaram com puxões, agarrões, cantadas... E era só o primeiro dia! À noite, as mulheres capricharam: maquiagem, roupa com brilho... Escolhi um vestidinho preto, sandália de salto e colar cheio de corações e penduricalhos. A boate era apertada. Então, depois do "De onde você é?", muitos caras emendavam com "Vamos conversar melhor lá fora?" Ataque feito. Eu me acabei de dançar e até conheci alguém que não fazia o meu tipo: era meio playboy, mas tinha bom papo. Perguntou sobre a faculdade, a formatura... Senti que estava interessado em me conhecer, diferentemente de outros, que só queriam beijar. Falamos de psicologia a poesia, passando por piadas e relacionamento. Depois, cada um foi para o seu lado, como recentes e bons amigos.

2o dia - Acordei com a má notícia de que não desceríamos em Florianópolis devido às condições desfavoráveis do mar. Mas ninguém fez drama, porque, para ser sincera, o que importava era o agito no navio. Avistei de relance minha companhia da noite anterior. Mas era um novo dia, e percebi que a fila dele já tinha andado. Não achei bacana essa velocidade das relações: você encontra alguém, bate o maior papo e no dia seguinte nem se olham? Além disso, todo mundo fica com todo mundo. Homem bonito com garota sem sal, mulheres de 35 anos com meninos de 20... "Quem está na chuva..."
3o dia - Descemos em Ilhabela para fazer comprinhas e mudar o visual: colocar tererê, achar um brinco novo... Almoçamos e, quando nos demos conta, já era fim de tarde. Hora da azaração forte no navio. No cassino, um cara de cabelo espetadinho e visual fashion abordou a gente. Estava sozinho e apostei 5 dólares para jogar com ele. Rapaz divertido. Dali, demos uma volta na piscina e na boate. Então, ele disse que não estava se sentindo bem por causa do balanço do navio e quis ir para a cabine. Seria uma cantada? Me fiz de desentendida.
Álbum de viagem - O cruzeiro foi inesquecível. Faltaram mais brincadeiras organizadas explorando o tema single. Elas se restringiam a colar um adesivo vermelho (pare), verde (siga) ou amarelo (fique alerta) na roupa, de acordo com a sua disponibilidade. Que bom que a minha alegria continuou fora do navio. Quando o meu namorado me viu de volta, disse "Te amo!"

Diário de bordo das Stellas

As irmãs Alessandra Stella, de 21 anos, e Luciana Stella, de 25, empresárias paulistanas, viajaram juntas e, na última hora, acabaram levando dois acompanhantes. Como assim? Bolo na festa? Verdade seja dita, só a Luciana estava ficando com um deles. Alessandra, que jurou ser amiga do outro, é quem fez o diário da dupla.
1o dia - Já na chegada, liguei o radar disposta a fazer uma pré-seleção de paqueráveis para a night. Eram muitos gatos a bordo! A Lu e eu fomos a um deque que dava vista para a piscina. E um grupo de oito homens, sendo cinco superbonitos, começou a fazer sinal, chamar a gente para descer. Vestiam camiseta regata e sunga, eram cheios de músculos - e de segundas intenções. Percebemos que a lei ali era ir direto ao ponto no lugar de insinuações. Na balada, minha irmã beijou o rolinho dela e eu não me envolvi com ninguém por ainda ser o primeiro dia. Depois das 3 da manhã, a boate esvaziou e o movimento maior era de casais recém-formados entrando nas cabines.

2o dia - Meu dia começou em câmera lenta, por causa da ressaca e do cansaço, mas percebi uma coisa: homens que estavam acompanhados na madrugada já investiam em outras mulheres no café da manhã. Aliás, a criatividade masculina para abordagens era impressionante: valia bilhete com o número do celular embaixo da porta da cabine das mulheres, recados-convite para tomar um drinque. Como a Lu e eu somos loiras e parecidas, ouvimos: "Nossa, estou vendo em dose dupla!" ou "Adorei essas xerox". Os mais ousados puxavam garotas pelo braço para dentro da cabine. "Só queremos amizade fácil e colorida", dois deles me confessaram. Enquanto o navio fervia, o caso da Luciana se mantinha na dele, só observando. Já navegantes desacompanhados pareciam querer tirar o atraso em três dias. O que nos deixava na posição confortável de escolher à vontade. Algumas mulheres não perderam tempo. Uma fingiu estar pra lá de Bagdá e pediu ajuda a um paquera para descer as escadas. Beijou o alvo solidário ali mesmo.
3o dia - Conhecemos a Márcia*, que também tinha levado bolo à festa, quer dizer, o namorado. Começaram a viagem bem, mas no segundo dia se desentenderam. No terceiro, se separaram e a Má caiu na farra. Não queria mais dividir a cabine com o ex, então mudou-se para a de um pretendente. Simples assim. O dia passou rápido demais e, quando vimos, já eram 10 da noite: hora de ficar linda. Nosso interfone não parava de tocar. As linhas estavam interditadas de tanta gente que ligava convidando para "a festa lá no meu apê". Isso mesmo: balada privê na cabine dos homens. Despistávamos dizendo "Daqui a pouco eu vou!" Pena que não soubemos o que ocorreu de fato nesses inferninhos, porque era a última noite e não reencontramos mais essa turma. Se fiquei com alguém? Mistério...
Álbum de viagem - O cansaço nos fez perder o desembarque. Tivemos que sair às pressas do navio. Fizemos um balanço da viagem e concluímos que é loucura levar namorado, como a Márcia fez. A Luciana e o gato dela continuaram juntos porque um não cobrava atenção do outro. Se valeu a pena? Siiim. Mas agora sei que ou você se diverte com a azaração explícita e em massa ou veste o colete salva-vidas e se joga no mar.

Fonte: http://nova.abril.com.br/edicoes/380/fechado/amor_sexo/conteudo_87379.shtml

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