Relacionamento. Você conseguiria ter um relacionamento aberto?

Quem ama quer viver agarradinho, juntinho e, se possível, até dentro do outro. Certo? Bom, com a maioria, sim. Isso mesmo, porque alguns casais de vanguarda abriram mão da velha fórmula do relacionamento e implantaram outros métodos para serem felizes. Grude, por exemplo, é algo terminantemente proibido. Cobrança, então, nem se fala: um verdadeiro tabu. Nesse novo conceito de relação, individualidade e liberdade são as palavras de ordem.
Parece esquisito, não? No entanto, para quem assumiu este tipo de compromisso, estranho é ficar preso a algum tipo de convenção da sociedade. “Todo mundo tem vontade de sair com outra pessoa ou de ficar sozinho, mas isso não significa que queira ficar solteiro. Só que ninguém assume isso. Aí, mente, trai, engana. Eu prefiro ter um relacionamento sincero, baseado na pura vontade de fazer as coisas e não no que é bonito e correto, segundo os outros”, pensa o advogado Rômulo Malheiros.

Falando assim, pode parecer perfeito: você tem lá seu chinelo pra calçar, e quando está a fim de variar, espairecer ou mesmo se divertir, simplesmente, vai pra pista. Pelo menos é isso o que a engenheira Carla Macedo e seu namorado costumam fazer para o tédio e a rotina não assolarem seu relacionamento. “Já fui casada e não tenho mais tempo a perder com bobagens conjugais. A vida é uma só, e eu quero vivê-la da melhor forma possível. Por esse motivo, procuramos nos manter realizados individualmente”, diz ela.

E o que consiste em se realizar individualmente? “Eu viajo sozinha, tenho o meu círculo de amizades e até rolinhos passageiros, não me prendo ao meu namorado e nem ele a mim. Somos pessoas independentes, não temos aquela relação dos casais comuns. Mas quando a saudade pinta a gente fica junto”, relata Carla.

Mesmo não tendo a cansativa missão de inventar desculpas para a farra que se estendeu além da conta, há quem jure que este tipo de relacionamento não atrai. “Isso é para quem não se gosta. Não adianta me convencer do contrário, quem ama não consegue viver assim”, acredita a dentista Valéria Sampaio. E a gerente comercial Tatiana Garcia endossa o coro e entra na discussão com uma tese a respeito dessa liberdade assistida: “Isso é desculpa de homem que quer enrolar a mulher.

Se não é pra ter relacionamento, não tenha. Ninguém precisa estabelecer que é aberto, os homens sabem que as mulheres acabam sendo fiéis quando gostam, enquanto eles continuam na galinhagem”, teoriza Tatiana.

Maturidade, preservação da liberdade ou pura ilusão? Será que este tipo de pacto vinga entre um homem e uma mulher? Para o psicólogo Jadir Lessa, ele não passa de um esforço para se manter livre. “Hoje em dia pregam muito essa coisa de se sentir sem compromisso. E o relacionamento ameaça este ideal. As pessoas então acham que a solução é optar por uma relação aberta”, comenta Jadir. No entanto, o psicólogo acrescenta que de fato esta escolha é ilusória, não existe uma manutenção sadia disso conforme a relação se estreita. “No início, a pessoa acredita que pode levar adiante. Ela se prende a outra por gostar, querer estar junto, mas mantém a chave da porta, seria essa a metáfora.

Só que, com o tempo, ela vai se apegando e fica difícil sair. Aí, surgem os problemas”, diz ele.

Segundo Jadir, isso é muito comum de acontecer com pessoas que já tiveram relacionamentos sufocantes. Assim sendo, a primeira regra que impõem é: estamos aqui só para nos divertir. “Existem dois tipos de ligação, a de contrato e a de contato. A primeira é a obrigação de estar junto. A segunda, o prazer.

Relacionamento aberto é nada mais nada menos do que uma tentativa de só se ter a segunda, uma utopia. Eu costumo comparar ao casos dos amantes: no começo a intenção é apenas ser feliz por alguns momentos, depois as coisas se aprofundam. É impossível não ter comprometimento quando se ama”, afirma Jadir Lessa. Portanto, podemos concluir que aberto deve ser o coração.


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