A compulsão por sexo foi originalmente descrita pelo psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing (1840-1902) em 1886. Entretanto, só recentemente passou a ser definida como transtorno mental.
Essa compulsão é caracterizada pela imposição interna incontrolável em realizar um ato sexual mesmo
que venha a prejudicar a si próprio ou outras pessoas, por uma
excitação gradativa antes de realizá-lo e por um alívio imediato,
seguido de arrependimento, após consumá-lo. Causa sofrimento emocional e pode comprometer a saúde financeira e as relações familiares e profissionais do indivíduo.
Nos Estados Unidos, estima-se que 5% da população têm comportamento sexual compulsivo.
Valores provavelmente muito subestimados, devido ao constrangimento dos
envolvidos em revelar a sua condição. Não há estatísticas a respeito no Brasil.
De forma bastante simplificada, sexo é a recompensa evolutiva
pela estratégia de reprodução adotada pela espécie humana. É evidente,
portanto, a importância biológica de uma associação entre excitação,
satisfação e ato sexual.
Estudos de neuroimagem funcional em seres humanos demonstraram que o orgasmo afeta as mesmas regiões do cérebro que, por exemplo, o consumo de cocaína.
Não é difícil imaginar que comportamentos compulsivos podem levar a
adaptações moleculares e celulares no cérebro semelhantes às observadas
pelo uso abusivo de drogas.
De fato, em 2010, cientistas canadenses demonstraram que, em ratos,
ocorre a sensibilização das mesmas regiões cerebrais após relações
sexuais repetidas ou exposição à anfetamina. Entre essas regiões, está o núcleo accumbens, estrutura próxima ao hipocampo ligada à sensação do prazer e que faz parte do sistema dopaminérgico mesocorticolímbico.
Há uma associação entre aumento da neurotransmissão dopaminérgica e
a compulsão por sexo. De modo semelhante aos efeitos sensibilizantes
das drogas de abuso, encontros sexuais repetidos amplificam a resposta à dopamina no núcleo accumbens.
A importância de um neurotransmissor – a dopamina – no
desencadeamento de transtornos de comportamento pode ser confirmada
pelas alterações descritas em algumas pessoas em tratamento da doença de Parkinson.
Pelo menos 17% desses pacientes, quando utilizam substâncias que
simulam, parcialmente, o efeito da dopamina – os chamados ‘agonistas da
dopamina’ –, passam a apresentar transtornos de comportamento, incluindo compulsão por jogos de azar, internet, compras ou sexo.
O ato sexual aumenta a expressão do gene de resposta imediata FosB delta no
sistema dopaminérgico mesocorticolímbico. O aumento da expressão desse
gene melhora o desempenho sexual, enquanto seu bloqueio o prejudica.
Tanto as experiências sexuais repetidas quanto o consumo de drogas de
abuso também promovem, novamente no núcleo accumbens, a atividade da enzima MAP cinase.
Da mesma forma, as alterações na morfologia e nos prolongamentos de neurônios são análogas após exposição continuada a substâncias de abuso ou comportamento sexual compulsivo.
Podemos concluir que os mesmos circuitos cerebrais de recompensa e
motivação são ativados tanto por substâncias de abuso quanto por
compulsão sexual
Podemos concluir, com essas análises, que os mesmos circuitos cerebrais
de recompensa e motivação são ativados tanto por substâncias de abuso
quanto por compulsão sexual.
Nos últimos 50 anos, a nosologia psiquiátrica discriminou a busca
compulsiva por substâncias (álcool, cocaína, heroína, nicotina) daquela
associada a comportamentos (jogos de azar, sexo, internet).
Os avanços recentes da ciência, entretanto, têm desafiado esse limite de diagnóstico, apontando vulnerabilidades comuns entre a busca patológica por drogas de abuso e aquelas associadas a exageros de comportamento.
Um benefício clínico antecipado pela identificação do sistema
dopaminérgico mesocorticolímbico como coadjuvante tanto do abuso de
drogas quanto dos transtornos sexuais está na possibilidade de
utilização de medicamentos prescritos originalmente para o tratamento de
dependência química em casos de compulsão por sexo.
Um estudo de 2001 descreveu resultados promissores da utilização do antagonista opioide naltrexona (usado no tratamento de dependentes de álcool e heroína) na redução do comportamento sexual compulsivo.
Curiosamente, o exercício físico eleva os níveis cerebrais de opioides endógenos
e está associado ao aumento de dopamina no núcleo accumbens de roedores
e humanos. A prática crônica de exercícios também é capaz de prevenir o
consumo de anfetamina em ratos, além de evitar recaída de fumantes em
abstinência.
Podemos especular, portanto, que um programa intenso de atividade física talvez seja capaz de reduzir os sintomas do transtorno hipersexual.