Apesar
de um grande número de homens e mulheres buscar relações sexuais mais
livres, respeitando os próprios desejos, uma grande parcela da população
ainda se submete a valores morais anacrônicos, sem nenhum
questionamento.
O
sexo é ainda tão reprimido, tão cheio de tabus e preconceitos, que a
maioria não sabe diferenciar o que realmente deseja do que aprendeu a
desejar. Quantas vezes você ouviu uma amiga afirmar, após ter ficado
de carícias e beijos a noite inteira com um homem, que não foi ao motel
porque não sentiu vontade? Ou um amigo dizer que não está a fim de sair
com determinada mulher, quando no fundo o medo é de falhar a ereção?
A repressão sexual
é um conjunto de interdições, valores e regras estabelecidas pelo
social para controlar a sexualidade das pessoas. O maior perigo da
repressão sexual é quando, de tão bem-sucedida, não se percebe sua
existência. Por meio da educação, os valores e as proibições sociais são
assimilados de tal maneira que, depois de internalizados, se expressam
sob a forma de culpa e vergonha. E a ideia de que há no sexo algo de
pecaminoso é absurda, causando sofrimentos que se iniciam na infância e
continuam pela vida afora. Desde cedo, as crianças aprendem a associar
sexo a algo sujo, perigoso. E dentro das famílias essa ideia ainda ganha
um reforço. Por conta de todos os preconceitos, se vive como se sexo
não existisse, e ninguém fala com tranquilidade sobre o assunto.
Na
verdade, a repressão sexual é um enigma estranho e paradoxal. Se todo
ser humano sente prazer com estímulos sexuais, por que então, o tempo
todo e em toda parte, sempre existe alguém tentando restringir a
liberdade sexual das pessoas? Uma explicação possível está no fato de
que, quanto mais se amplia, aprofunda e diversifica a vida sexual, com
mais coragem, vontade e decisão se vai vivendo. Transgredir e contestar
as regras impostas pode, portanto, tornar as pessoas “perigosas”.
W. Reich,
profundo estudioso da sexualidade humana na primeira metade do século
XX, vai mais longe ainda. Ele afirma que a repressão sexual da criança
torna-a apreensiva, tímida, obediente, “simpática” e “bem comportada”,
produzindo indivíduos submissos, com medo da autoridade. O recalcamento
— resultado da interiorização da repressão sexual — enfraquece o ‘Eu’
porque a pessoa, tendo que constantemente investir energia para impedir a
expressão dos seus desejos sexuais, priva-se de parte de suas
potencialidades.
Portanto,
conclui Reich, o objetivo da repressão sexual consiste em fabricar
indivíduos para se adaptar à sociedade autoritária, se submetendo a ela e
temendo a liberdade, apesar de todo o sofrimento e humilhação de que
são vítimas. James W. Prescott, respeitado neuropsicólogo e pesquisador americano,
concluiu que uma personalidade orientada para o prazer raramente exibe
condutas violentas ou agressivas e que uma personalidade violenta tem
pouca capacidade para tolerar, experimentar ou desfrutar atividades
sexualmente prazerosas.
Ao
contrário de outras culturas, em que alcançar o máximo de satisfação no
sexo é importante, a nossa cultura judaico-cristã valoriza mais o
sofrimento, considerando-o uma virtude. O prazer é visto com maus olhos.
Se você quiser comprovar, basta fazer uma experiência. Quando chegar
amanhã ao trabalho, conte uma desgraça, daquelas bem cabeludas. Diga
como está sofrendo e como viver é difícil. Garanto que todos vão se
mobilizar, ficar ao seu lado, tentando ajudar de todas as maneiras.
Daqui a uma semana, faça o oposto. Conte como está feliz, diga que teve
uma noite maravilhosa, de intenso prazer sexual. Mas se prepare. Seus
colegas vão tentar disfarçar, mas se afastarão com risinhos irônicos e
passarão a te olhar diferente, de um jeito meio crítico.
Não é de admirar, portanto, que tanta gente renuncie à sexualidade ou que a atividade sexual que se exerce na nossa cultura seja de tão baixa qualidade. Na
maioria das vezes ela é praticada como uma ação mecânica, rotineira,
desprovida de emoção, com o único objetivo de atingir o orgasmo o mais
rápido possível. Resulta daí ser o desempenho bastante ansioso,
podendo levar a um bloqueio emocional e a vários tipos de disfunção,
como impotência, ejaculação precoce, ausência de desejo e de orgasmo,
sem falar nos casos mais graves de enfermidades psíquicas. É preciso
descomplicar o sexo.