Moda. Estilo Vintage, como utilizar

Procurar e comprar clássicos Vintage pode ser quase tão divertido como usá-los. Haverá algo mais emocionante do que escolher entre centenas de peças únicas, roupas lindas que favorecem o nosso corpo e são amigas da carteira? O Vintage é sem dúvida uma gratificante maneira de fazer compras, sem ter, no entanto, de se misturar com as multidões do centro comercial mais próximo.
Em vez disso, encontrar-se-á a visitar novos locais interessantes como lojas vintage ou feiras. As estratégias de compra também diferem, pois nada do que vai encontrar é feito no dia. Não existem tamanhos diferentes do mesmo modelo em armazém, cada peça é diferente da próxima e como tal única.
Os compradores Vintage depressa aprendem a explorar os variados estilos de moda de diferentes décadas, e descobrir quais os modelos e formas que mais os favorecem.



Descubra o seu estilo de corpo e saberá que roupas lhe assentarão melhor

Sejamos sinceros, não há ninguém que fique bem em tudo. Alguns tipos de roupa fazem-nos parecer mais largos de ancas ou peito, ou pior, chamam a atenção para uma zona lombar da qual ninguém se pode gabar… Outras, porém, fazem-nos mais elegantes e conseguem camuflar as zonas problemáticas. São estas as peças que procuramos, estação após estação, suspirando de frustração quando os criadores não as incluem na sua mais recente linha.
Parem de suspirar e comecem a comprar Vintage. Uma das maiores vantagens que a roupa vintage nos fornece é a oportunidade de escolha entre variadíssimas peças com cortes clássicos que nos favorecem, que apesar de não estarem “na moda”, serão eternamente peças “com estilo”.
Se os ombros largos, saias justas ou calças que realçam o traseiro, na moda neste momento lhe ficam terrivelmente mal, para quê investir num look de pouco êxito que tem os seus dias contados? Em vez disso, vista Vintage e faça experiências com cortes clássicos de outras décadas. Experimente saias redondas dos anos 50, túnicas de malha compridas e adelgaçantes dos anos 70, vestidos de bainha apertados dos anos 60 ou calças largas com pregas dos anos 40. Dê um passo atrás e verifique, ao espelho, o efeito que a roupa tem no seu corpo. Parece-se mais magra ou mais gorda? Mais alta, talvez? Parece ter mais ou menos curvas? Principalmente, gosta do que vê? Caso a resposta seja afirmativa tome nota do corte e da década do fabrico da peça em questão e adicione-a mentalmente à sua “lista de compras”.

Para a ajudar a escolher as peças apropriadas ao seu estilo de corpo, propomos que recorde alguns dos “ideais de beleza” de eras recentes. Lembra-se das “Pinup girls” das décadas de 40 e 50? Elas tinham curvas bem delineadas, “cheias”, como se costumava dizer, e cinturas mínimas. Twiggy (modelo/actriz) e o look super-magro e andrógino dominaram nos anos 60, enquanto Jerry Hall, com o seu corpo escultural e pernas longas levou avante o look campestre e as macias malhas Halston dos anos 70 e 80 com desenvoltura. Descubra o seu estilo de corpo e saberá que roupas lhe assentarão melhor.
“Tenho uma cintura estreita”, afirma Lauren, uma compradora de roupa Vintage ávida, “por isso tenho tendência a escolher os corpetes justos dos anos 40 e 50. Por outro lado descobri que os vestidos de corte “bias” dos anos 30 me assentam mal. Já nem sequer me dou ao trabalho de os experimentar.”
“Sou um pouco baixa e tenho muitas curvas”, diz Marianna, outra compradora experiente de roupa vintage. “Também tenho tendência em me inclinar para a roupa dos anos 40 e 50. Assentam-me mesmo bem, muito melhor que as roupas straight-up-and-down (“mod”) dos anos 60. Já nem lhes pego, pois sei que não me favorecem.” Chegar a este ponto de selectividade é a meta de todos e quaisquer compradores vintage. Se souber bem o que procura, conseguirá explorar todos aqueles cabides com confiança redobrada, sabendo que as suas mãos irão agarrar numa peça com um corte e forma que realmente a favorece.

Onde começar

São tantas as décadas de moda a explorar! Tantas escolhas! O que uma nova compradora precisa é de um local onde poderá ver e tocar em centenas de peças vintage, todas elas expostas organizadamente. Um local onde toda a “caça e recolha” (trabalho duro de selecção da roupa) foram feitas por ela e a compradora poderá ver e experimentar o que quiser até estar satisfeita.
Será isto um sonho impossível?
Dê uma olhadela à sua loja vintage mais próxima. Estas lojas oferecem uma vasta selecção de roupa em boas condições, cuidadosamente escolhidas pela sua qualidade e interesse. Os empregados são vendedores informados que adoram conversar e partilhar o seu conhecimento sobre roupa e os provadores costumam ser isolados e perfeitos para sessões prolongadas de “veste, despe e torna a vestir”. Como tal, estas lojas são o local ideal para desenvolver o seu “look” e o seu olho para um estilo e corte clássicos.
O único senão é o facto de os preços serem mais elevados que na loja de descontos mais próxima. O dono da loja vintage fez todo o trabalho duro por si e está a cobrar pelo seu tempo, perícia, gosto, apresentação e localização acessível. Você também irá, brevemente, espreitar estes outros locais, mas se passar primeiro pelas lojas vintage especializadas, irá com um olho treinado que lhe poupara tempo e dinheiro.

Fazer compras numa loja de Vintage de especialidades

Ao entrar numa loja que não conhece faça um breve “tour” pela loja, para conhecer bem o terreno. Você irá descobrir que décadas a loja abrange, se o gosto do dono é parecido com o seu, se está diante de uma colecção inteira de peças de marca, ou de roupas mais acessíveis à sua carteira. Ajuda também a desenvolver uma imagem mental de como a loja está organizada.
A maioria das lojas divide o stock por sexos, (muitas têm roupas de homem, que também ficam muito bem a mulheres) e depois por peças – calças, vestidos, saias, etc. Algumas lojas dividem ainda estas subcategorias por cores, outras agrupam todas as malhas juntas, ou todas as peças de designers famosos. Existem também as que criam pequenas áreas de especialidades como “Vestidos Swing”, “Vestidos pretos” e “Vestidos de bailes de finalistas” para uma fácil identificação. As roupas vintage nunca são expostas por tamanhos e raramente por décadas de fabrico.
De seguida dê uma segunda volta seleccionando tudo o que lhe parecer promissor. Como cada peça é única, se vir uma que goste deverá agarrá-la rapidamente e passeá-la consigo pela loja (para poder compará-la com outras peças que chamarem a sua atenção), ou pedir que lhe deixem a peça num provador ou na caixa, até conseguir experimentá-la. Pode sempre deixá-la onde a encontrou, mas se a deixar pendurada no cabide ela poderá ter desaparecido quando você voltar.
Nesta primeira etapa de “caça e recolha” mantenha uma mente aberta. Apesar de poder ter vindo às compras com algo específico em mente (“Preciso mesmo de uma saia preta justa!”), olhe para tudo com o mesmo entusiasmo e se vir uma camisola com missangas espectacular que parece ter sido feita para si e fica maravilhosamente bem com aquele seu par de calças, não hesite! Tenha, no entanto, em atenção que se as camisolas de missangas estiverem em alta no cenário da moda actual, irá pagar um pouco mais pela sua. Os donos das lojas vintage sabem perfeitamente bem o que está na moda nesse preciso momento e poderão aumentar os preços dos vestidos swing ou das camisas à Jackie O. quando estas peças aparecem nas passerelles. Pague o preço que pagar, você vai provavelmente acabar com uma peça de melhor qualidade por menos do que o pagaria pela sua versão mais recente.
Enquanto fizer compras não tenha receio de meter conversa com o dono da loja. A maioria dos donos estão nas lojas a maior parte do tempo, adoram conversar, são apaixonados pelo tema “Vintage” e muitos são extremamente cultos. Poderá aprender bastante no curso destas conversas amigáveis. Por exemplo no romance de 1998 de Christina Bartolomeo, “Cupid & Diana”, Mary, a dona de uma loja Vintage aborda a heroína e inicia-a no mundo vintage. “Mary nunca me mentiu sobre o que me ficava bem e o que nem por isso,” escreve Bartolomeo. “Ela nunca vendeu a um cliente uma peça que não lhe ficasse bem. (...) Ela ensinou-me que roupas de que criadores me ficavam bem ou mal. (...) Mary adorava a beleza escondida num bom acabamento. (...) Uma bainha bem acabada com fita de renda, uma casa-de-botão carinhosamente trabalhada, um forro de cetim listrado com ouro antigo e rosa. Um bom acabamento trazia alegria ao seu coração.” Torne-se um cliente regular da sua loja vintage mais próxima e descubra a sua própria “Mary”. Uma dona de loja vintage amigável poderá ajudá-la a agilizar as suas sessões no provador (“não perca tempo a experimentar isso, é mais pequeno do que parece” ou “Isso vai ficar-lhe muito bem!”), oferecer-se para lhe mostrar algumas peças guardadas nas traseiras ou ligar-lhe a avisar quando algo de especial aparecer na loja.
Mesmo que não encontre nada que queira comprar numa das visitas à sua loja vintage preferida, não se esqueça de dar uma espreitadela frequentemente. Lembre-se que não existem estações na moda vintage, os donos estão sempre à procura de produtos novos para juntar ao stock e as peças nos cabides alteram-se frequentemente. Entretanto espalhe o sua rede pelo mundo fora. Se viajar, em trabalho ou lazer, junte este tipo de compras à sua rotina. Descubra nas páginas amarelas ou na internet as lojas vintage das vilas e cidades que planeia visitar. Quanto mais para longe for, melhor.
Onde quer que faça as suas compras vintage, os preços tendem a ser firmes. Os donos das lojas vintage consideram-se retalhistas, como uma Bloomingdale’s ou uma Harrod’s (grandes armazéns muito conhecidos em NY e Londres), onde seria completamente inapropriado regatear um preço. Há, no entanto, algumas excepções. Se comprar uma grande quantidade de peças ao mesmo tempo poderá pedir um desconto pelo volume, e quando conseguir garantir a sua posição de comprador sério que provavelmente voltará semana após semana, verá que o dono fará alguns ajustes aqui e ali. Nunca peça um desconto assim que entrar na loja, faça-o apenas quando estiver decidido a levar uma peça em particular e seja amigável e educado quando fizer o seu pedido.

Qualidade

Poderá parecer uma afirmação estranha num livro que espera elogiar o gosto por roupas vintage, mas o facto de uma peça de roupa ser antiga não a torna automaticamente melhor que as outras. Antigo é simplesmente antigo. O que procura são peças vintage de grande qualidade e interesse.
Umas das razões principais que levam a comprar roupa vintage é a oportunidade de comprar uma peça tão bonita e tão bem feita como as de alta-costura de hoje em dia, por muito menos do que o que pagaria pelas roupas banais do centro comercial. É muito mais fácil de levar a cabo do que pensa. Muitas das roupas produzidas antes dos anos 60 eram feitas a mão, utilizando tecidos lindos que nos dia de hoje são demasiado caros para a maioria dos fabricantes, ou que já deixaram de ser produzidos. Procure cortes muito bonitos, tecidos caros ou complexos, toques finais interessantes e acabamentos de primeira.
São estas as qualidades que fazem de uma peça vintage um clássico duradouro.

Tecido

As roupas vintage deverão ser de igual modo atraentes ao tato como ao olhar. Passe levemente as mãos por um tecido de uma peça atraente. Deparou-se com uma lã pesada extraordinária, ou uma gaze de sonho? A cor é brilhante, ou o padrão fora do vulgar? Muitos dos tecidos antigos foram produzidos utilizando processos demasiado longos ou de custo demasiado elevado para a produção contemporânea. “Nos anos 50 e 60 utilizavam tecidos muito melhores para roupas comuns, que não de designers famosos”, afirma a designer de moda Shannon McClean, uma dedicada compradora de roupa vintage.
Tais tecidos devem ser bem mais firmemente tecidos, com bastantes mais bordados ou com um brilho mais bonito que qualquer um disponível nos dias de hoje. 
“Consegue encontrar peças feitas com mistura de lã e seda, que hoje em dia seriam consideradas peças de alta costura,” diz McClean. Até os raions fabricados a partir dos anos 30 até à década de 50 são merecedores da nossa atenção. Estes não são sintéticos (são feitas de uma fibra de árvore chamada celulose) e tem pouco a ver com os fracos exemplares das lojas de descontos de hoje. Estes raions têm cores lindas e caiem muito bem. A cor é outra razão para comprar roupa vintage: “ Você encontra vários tipos de tons que já se deixaram de usar, como os verdes pistachio, os turquesas, os laranjas tangerina”, nota McClean. “As mulheres costumavam usar cores mais vibrantes do que hoje em dia.”
Por exemplo, as camisolas de caxemira vintage vêm em cores fora do vulgar e ainda por cima são muito mais grossas do que as modernas. Irá encontrar exemplares de quatro fios, extremamente suaves, por um preço mais baixo que uma camisola Shetland vulgar.

Acabamento

Uma peça vintage é um verdadeiro mapa de pistas que nos leva a descobrir a sua origem, ano de produção e qualidade. Tudo o que tem a fazer é aprender a ler o mapa. Comece pelas etiquetas – pequenos sinais que anunciam a marca e por vezes até a cidade onde a peça de roupa foi produzida. Mesmo que não encontre uma etiqueta no colarinho de um vestido (ou na cintura de uns saia ou par de calças), não desista! Passe a mão por todas as costuras da peça. Poderá descobrir a etiqueta na parte inferior de uma das costuras laterais, especialmente se se tratar de uma peça de alta-costura.
No entanto, a ausência da etiqueta não significa automaticamente que a peça não é de alta-costura. Muitas das etiquetas que anunciavam “Dior” ou “ Schiaparelli” foram removidas por viajantes astutos, antes de passarem pela alfândega. Deste modo as taxas devidas pelo traficante bem vestido seriam bem mais baixas.
Se encontrar o vestígio de uma etiqueta arrancada numa peça particularmente bonita pode significar que está na posse de algo especial.  A existência de uma etiqueta pode fornecer uma grande quantidade de informações.
Se a etiqueta tiver algo como “Madame Dubois, Woodward Avenue, Detroit, Michigan” escrito, significa que provavelmente a peça terá sido criada por um dos muitos pequenos costureiros que trabalharam durante as primeiras 6 décadas do século XX e deverá estar extremamente bem confeccionado.
Até mesmo as etiquetas dos Grandes Armazéns podem significar descoberta de qualidade superior. Estes armazéns tinham muitas vezes os seus próprios departamentos de alta-costura.
Mesmo que o nome na etiqueta lhe seja totalmente desconhecido, esta pode ainda fornecer-lhe pistas valiosas: Se esta for tecida (em vez de impressa) e estiver cosida em toda a volta (e não apenas nos quatro cantos) pode supor que a peça seja de qualidade superior. Uma etiqueta de sindicato (union label), por outro lado, significa que se trata de um fruto de produção em massa.
De seguida olhe para a construção da peça. Vire-a do avesso e inspeccione os detalhes que denunciam alta qualidade, tais como forros em materiais invulgares e interessantes ou cores contrastantes. Verifique se existem forros interiores feitos de mais do que um material (escolhidos pelo uso destinado no interior da peça) e generosas concessões de costuras. Costuras à mão não são difíceis de encontrar. São muito mais bonitas e uniformes que qualquer costura feita à máquina. Um forro cosido à mão irá parecer-lhe quase tão bonito como a parte exterior da peça.
Por outro lado, costuras demasiado travadas cosidas e com as pontas soltas atadas com um fio continuo produzido à máquina, normalmente denunciam uma peça de produção mais barata. Encontrou um alinhavo de alfaiate? Trata-se de uma série de Xs numa linha de cor contrastante cosida na parte da frente de uma saia ou par de calças que indicam a frente. Estes são só encontrados em peças boas. O mesmo se pode afirmar sobre os pesos de vestidos (pequenos pesos em metal inseridos para segurarem um forro de uma peça), bolsos escondidos e alças de lingerie (destinadas a esconder alças de soutiens ou combinações, ou ainda para pendurar uma peça).
Agora olhe para a parte de fora e procure feitios bonitos e detalhes reveladores, como um padrão que foi tão cuidadosamente combinado que quase nem vemos onde acaba o casaco e começa a saia. Esteja na expectativa de encontrar buracos de botões feitos à mão, ou uns amarrados com tiras de tecido combinados, lapelas escolhidas a dedo, botões revestidos ou exemplares interessantes em chifre, latão, pérola, ou osso. A presença de trabalho manual como bordados, aplicados ou missangas é sempre uma vantagem. No geral você estará à procura de um detalhe invulgar e/ou acabamento que já não existe fora da alta-costura. No entanto, antes de se dirigir à caixa registadora  verifique se a peça não terá sido alterada. Algumas alterações mudam a maneira como a peça cai, e não para melhor. Os seus próprios olhos são a melhor ferramenta para esta avaliação de qualidade, mas não exclua o tacto. Retire aquele vestido “shift” dos anos 60 do cabide e sinta-o na sua mão. Sinta a lã de boa qualidade, costuras feitas à mão, bainha em pura seda e retoques finais como pesos de vestidos adicionados a um género particular de peças em que se vai sentir bem e que lhe ficarão perfeitas. 

Últimas palavras

Se, ao ler este capítulo, você estiver tentado pelas possibilidades das roupas vintage, mas é daquelas almas teimosas ainda agarrada à ideia de que estas pertenceram em tempos a outra pessoa, considere este facto interessante: Mesmo que esteja a comprar no Neiman Marcus, Barney’s ou Selfridge’s (lojas famosas) cerca de 50 mulheres terão provavelmente experimentado aquela camisa preta antes de você chegar. Algumas delas terão possivelmente levado a camisola para um jantar, com a etiqueta posta, e devolvido à loja. Não deixe que preconceitos errados se metam no seu caminho. Em vez disso entre por esse mundo dentro e divirta-se! Vai adorar as roupas e talvez até a concorrência.

E, lembre-se, só existe uma peça de cada.

Fonte: http://www.aoutrafacedalua.com/roupa_vintage_artigo.html